quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Phoenix

Phoenix irisada

Ergo-me, qual espectro
Das cinzas incandescentes
Em que me enterraram.

Mas não me derrotaram.
Quem pode acusar?
Apenas os Deuses Julgam.

Derrubado, castigado, mutilado
Eu permaneço Eu!

Apenas me submeto ao meu Senhor!
Anpu Amado!
E à Sua Vontade,
O Caminho que ele me Indica e Aponta.

Pois sei,
Que aí colherei os Frutos de Ouro,
Os Aromas da Virtude.
A Paz de me regenerar a cada passo.

Me lanço
De novo e sempre,
No Voo intrépido da Vida.
Quem puder
Que me acompanhe.
Os débeis ficarão para trás.

Minhas Asas são o Fogo da Vontade!

O meu Voo é Alto e Além!

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

No Deserto de Seth

O Tempo parou!

A Terra respira
E Eu respiro com Ela.

No Deserto de Seth 
Encontrei tranquilidade.

Ré me abraçou,
No aconchego das suas Flamas
De Amor e Vida.

Sou um novelo ressequido
Soprado pelo Vento.
Vou ao sabor da Luz.

Meu poiso é Nenhures.

Aspiro a Paz.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Não Perdido

Cego,
Mas não perdido,
Avanço!

Minhas garras sangram o solo
Ao caminhar
Arrasto comigo
O peso das asas tolhidas,
Rasgadas,
Mas não amputadas.

O Tempo é meu Mestre.

Sinto no ar denso
A pestilência da degradação
Os gemidos e lamúrias que me rodeiam
Ao passar.

Meu Coração está longe!
Minha Alma almeja Alto!

Moribundos sem redenção não me deterão!

Meu propósito é chegar!
Meu destino...
Apenas o Meu Senhor Anpu o sabe.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Neve Negra

Frio,
Nevoeiro

Gelada, 
A neve negra
Cai espessa,
Sufocando pegajosa.

O viscoso breu me gruda as asas,
Tolhe o voo.

Prostrado,
Cego,
Caído na ignomínia da impotência
Dos que tombam sem haver lutado.

Resisto ainda!

Em Coração de Dragão
Arde o Fogo que jamais alguma negridão
Poderá extinguir.

Os Céus e Infernos serão meu pasto!

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

O Apelo de Seth

Vou cravar as garras no granito,
Até a Montanha sangrar!

Vou cavalgar todos os Céus!

Fúria é o meu rugido!

Fogo a minha dádiva!

De tormento
De pavor
De angústia!

Vou invadir cidades e aldeias,
Verdes prados ponteados de papoilas.
Por todos os recantos semear cinzas!

Perseguir incautos e astutos
A todos amesquinhar na sua soberba,
Cretina.

Cretinos!

Declaro guerra ao Mundo!!!

Seth!!! 
Senhor das minhas mágoas!
Que me inspiras blasfémias
E me incitas à arrogância.
Eu me submeto à tua Vil Vontade!

O meu Voo hoje não é de bodo,
Senão uma condenação a suplícios Maiores.

Teu Negro Sangue me corre nas veias
Tua Índole malévola me inspira tormentos
Teus Olhos de perfídia me mostram as cúrias abjectas
Parasitas do nojo
Vermes da cobiça
Lacaios da Ganância!

Eu me vou a eles! Ímpio Senhor!
Eu sou um agente da tua Crueldade!
Eu sou a mão que empunha o Teu Sabre da Ignomínia!

Venham a mim, trastes!!!

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Prostração

Fitando o Vale,
Esquecido do Tempo,
O Dragão perscruta a Névoa Negra
De ameaças e emboscadas
O Deserto árido onde Meu Senhor Seth me desafias,
Acoitado em cada prega do arenoso solo
Infértil

Anpu,
Senhor Meu Amado!
Sê meus olhos!
Sê minhas mãos
Tacteando o Vazio diante mim!
Sê paciência em mim
Na longa espera!

Quem são os rostos que chegam 
E logo partem?
De quem são os olhos que observam e nada vêem?
De quem são as mãos que não tocam?

Os passos idos e vindos
As veredas perdidas 
Em bosques de encantamentos
E ilusões!

E ganas de gritar todos os Silêncios do Mundo!!!

Quebradas as Asas,
Arreado e destroçado,
O Dragão fita a planura 
Dum Vazio imenso.

Impossível planar
Sobrevoar os Verdes Prados 
As Escarpadas Montanhas
Os Picos Nevados.

Interdita a escapada.

... ... ...

A agonia de assistir!
Impotente!!!

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

A Espera da Hora

Nas Trevas da Noite
Açoitado pelos gélidos Ventos e Saraivadas da Desolação
O Topo da Montanha continua a ser o cárcere do Dragão.

Mas,
Garras cravadas na rocha,
Que eras e eras esculpiram
Na Sabedoria do Tempo,
O seu Coração se mantém quente e palpitante.

A Hora chegará.
O Sol voltará.
Ré, Pai Celestial!
E com ele a Esperança renovada.

Tranquilo
O Dragão espera o Guerreiro.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Pensamentos

São esquivos.
Fugazes.

Insinuam-se,
Mas quando os vamos procurar 
Já não estão lá.

Esfumam-se quais espectros.

E assombram
E assombram e assombram...

Disfarçam-se 
Envoltos em sentimentos.
Vão e vêm,
Sem acaso ou destino.

Amontoam-se 
E paralisam.

Abro os olhos para constatar o infinito caos em que eles me encarceram.

Estagnado.

Apático.

Aaaaahhhhh.........................

sábado, 27 de setembro de 2008

O Espelho

Quedo

Inerte
Fitando os olhos do deserto,
Observando o construir do tempo.
Crescer em cada ruga.

Apático

Amputado,
Apenas uma mente irredutível,
Invicta.

Esperando

Nada
Da alva desolação antárctica,
Inferno de eternidade perecível.

Quotidiano

Quotidiana cumplicidade
Viciosa, minada de atrofismo.

Inamovível.

sábado, 13 de setembro de 2008

Quero

Eu quero ser apenas o Rio
Correndo acima das Nuvens

Eu quero ser as Asas
Roçando o Vento

Eu quero ser os Olhos
Fitando o Horizonte

Eu quero ser o Sorriso
Beijando a Vida

Eu quero ser a Espada
Desbravando o Desalento

Eu quero ser os Braços
Abertos ao Luar

Eu quero ser a Dança
Das Estrelas reflectindo no Mar

Eu quero ser a Lágrima
Do Aceno na Despedida

Eu quero ser a Canção
Do Cego sozinho no Bosque

Eu quero ser o Punho
Que se cerra em torno da Corda

Eu quero ser o Peito
Atirado contra as Chamas

Eu quero ser o Grito
Lançado no Deserto

Eu quero ser o Gelo
Paralisando a Mente

Eu quero ser o Catre
Onde repouse o Cadáver

Eu quero ser a Morte
Conduzindo a Barca

Eu quero ser o Além
Na Esperança de não Recuar.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

A Rocha

Ofuscante,
O Sol.

Infinito deserto,
Desenhando o Horizonte
Além do teu alcance.

Jazes imóvel,

Como se a Vida já se tivesse retirado,
Apagado o seu fôlego,
Silenciado a sua canção
O cântico murmurado dos momentos que se sucedem,
Inexoráveis.

Respiro o fogo
Que me consome as entranhas,

Minhas palavras são labaredas
Que se disspam no ar seco do Vazio.

Espero

Firme

Rocha sem rumo.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Solidão, Minha Amada

Solidão!

Oh, minha Amada Companheira!

Fidelíssima Senhora, sempre presente nas minhas horas de amargura.

Só tu sabes como me enxugar as lágrimas de sangue
Escorrendo de meu Coração tão esquartejado.

Feliz, eu! Por te ter como Guardiã.

Em que melhores mãos poderia eu repousar minha Alma atormentada?

Oh, Solidão!
Minha querida.

Só tu consegues escutar meu débil lamento
Só tu entendes meu choro
Só em teu colo eu encontro a Paz para meu sono tranquilo.

Te louvo e venero, Senhora minha!

Por ti eu percorro a estrada de vidros partidos,
Pois sei que tuas Lágrimas lavarão minhas chagas
E teu Sussurro aplacará minha dor.

Soubessem todos confiar em Ti...

Doce Senhora...

Cândida Parceira...

sábado, 9 de agosto de 2008

Renascente

O Dragão brilha em Fogo!

O Dragão distende as Asas,
Reluzentes ao Sol Nascente.

Ah! O Sangue correndo nas veias,
Inflamando o rubor dos Raios Matinais no extremos da Vitalidade.

A Alma renasce a cada novo pulsar,
Uma e outra e mais outra vez
Ainda.

Ninguém nos pode deter!

A Força é Minha!

A Coragem é Minha!

A Vitória é Minha!

O Dragão vai Voar de novo!

terça-feira, 5 de agosto de 2008

O Bico da Agulha

Apenas me resta o bico duma agulha.

A Montanha desabou!

O Dragão se empoleira no alto da escarpa aguçada
Garras cravadas nas arestas cortantes.

O Abismo continua o seu apelo constante.

Melopeia encantatória de provação.

A Voz do Vazio!

Não temo espectros
E medonhas criaturas,
Que se elevam perante e acima de mim.

Se uma garra resvalar,
As outras me suportarão.

Prevalecerei!

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Na Vereda

Corro que nem rato assustado
Esbarrando e ferindo-me contra muros e obstáculos,
Apanhado na armadilha, não tenho como escapar.

Não tenho para onde fugir!

Mas como fugir de mim próprio?

O percurso está definido,
Nós o traçamos passo a passo.
Dum modo ou outro acabamos por voltar à vereda que nos foi mostrada,
Não temos escapatória.

Apenas a coragem nos mantém a visão clara
E o discernimento para continuar fazendo opções.

Afinal sempre podemos optar por nos rebelarmos
ou por nos resignarmos.

Ou podemos esperar tranquilamente...

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Mutismo

Que posso dizer?...

Minha vereda segue entre um prado florido
E uma parede de silvas espinhosas.

Colhemos dos jardins que plantamos.

Talvez tenha eu sido um mau jardineiro
Nas escolhas que fiz.

Arrependimento?...
Nunca me arrependo.
Tudo serve de aprendizagem.

Lamento?...
Ah sim!
Lamento que tudo o que parecia ser belo e florido,
Se tenha tornado acre e vil.

Mas logo sacudo a cabeça ao vento
E este me traz o Amanhã.

E o Amanhã começa hoje,
Começa agora.

Não iria ficar roçando nos espinhos ignóbeis da arrogância filha da mesquinhez.

Meu olhar fita longe,
Fita Alto!

Minhas asas anseiam por se estender em novos voos...
Mais Altos...
Sempre mais Altos!

O Trono a meu lado está vago...

Avança pois, Donzel gracioso,
Ousa ocupá-lo!

Teu será por Direito,

Se o souberes dignificar.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Do Trono

O Dragão jaz ferido no Alto da Montanha

Ainda...

O Trono vazio a meu lado
Quem o virá ocupar?
Quem se apresentará com Virtude para o desafio?
Que donzel se aventurará?
Ousará...

Será Princípe?
Ou simples escudeiro?

Que dois olhos negros vejo eu entre a névoa da madrugada?
Que sorriso cândido se dissimula entre os véus de Apóphis?
Que esguio corpo se insinua entre os mistérios da Aurora?

Estendo a mão no negro manto da Noite,
O seu toque gélido me murmura os imensos segundos da minha espera.

Fiel companheira, Solidão,
Que profetizas para nosso Reino tão desolado?

O Donzel se apresenta perante nós
... ... ...
Prosseguiremos os Ritos?

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Tanto Assim...

Eis-me!

Envolto no meu negro manto da noite.
Trono de todas as provações,
Desfilando uma a uma,
Metódica e impassivelmente.

Minhas mãos desenham formas
Que meus olhos cansados não querem ver,
Doridos que estão de chorar as mágoas alheias

Porque haveria de me importar com o meu rumo
Com o destino dos meus passos?

Que conto para o fresco hálito da madrugada?
Na minha ausência as estrelas já não estarão lá.
O mundo terminará no meu fim.

Que importa o depois?

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Não

Eu não existo!

Eu estou aqui mas não estou cá.

Não existo além das palavras que escrevo, das ideias que me desfilam na mente e ganham existência nos escritos em que as transmito.

Eu parei quando o Tempo para mim parou.
Fiquei algures entre mim e eu.
Algures num momento inserto entre a vontade de chegar a parte nenhuma e nada.

Eu respiro nas ideias,
Pulso nos sonhos,
Ganho forma nas palavras.

Eu não sou mais que a minha escrita.

Eu não tenho um corpo; habito um organismo humano.

Não é o sopro da vida que me sustem; eu não tenho vida.

sábado, 19 de julho de 2008

Saudade (ainda)

É a saudade, porra!!!

O Amor não esquece

Saudade

Bolas!!!

Não é fraqueza
Não é pieguice
Não é hipocrisia

É saudade... Pura e simples

Saudade

Porque o amor não se perde
O amor não esquece.

E se eu te amei
Ainda te amo.

E a ausência magoa, fere, dói

E o abandono... Ah! Vil sentimento... Irreparável perda

E, ficar assim na noite
Sob o olhar prata do luar
No silêncio dum mundo adormecido,

As lembranças acorrem, assaltam, rasteiram,

Deixam o Coração de Dragão exposto ao Frio do Vazio.

Desabam os cumes das montanhas
Perecem os rios, secam nas fontes
Os mares recuam, deixando as praias sós... desertas... mudas.

As minhas mãos perdidas no negro do desamparo
Buscam nada

sexta-feira, 18 de julho de 2008

C'est la Vie

Um passo...
Outro passo...
Estender as asas...
E voar!

C'est la vie!

Saltitar entre os sonho e a realidade.
Viver meio cá meio lá.

Sem saber de que lado é o real

De que lado sou mais Eu

De que lado vem a Vida até mim e me mostra a Felicidade,
E me mostra o Amor,
E me mostra a Paz.

No meu Lar
Em que não há cima nem baixo,
Onde o lado e o acima
Se confundem num mesmo espaço que tem o mesmo sentido,
O mesmo propósito.

Eu quero ficar!

Onde o dia é sempre dia e a noite é sempre dia.
Também.

Eu quero morar no limbo!
Sem acordar.
Sem sentir o meu corpo envelhecendo dorido.
Sem sentir o fardo de ter de viver.

Sem... Sentir...

C'est la Vie...

Apenas...

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Olhando Acima

Ao cair no abismo
Ao bater no fundo
Apenas resta olhar para cima... e começar a subir.

Se me arrancaram as asas, ainda me restam as garras.
E com elas irei trepar de novo,
escolho a escolho,
em direcção ao topo.

Os Céus serão meus, de novo!

terça-feira, 15 de julho de 2008

Não Soçobrar

As Fúrias me assediam!

Olho em volta e escuto.
A paisagem desolada duma depressão colectiva se sobrepõe à minha coragem de prevalecer.
Vacilo e falta-me o fôlego. Estarreço e espero!

Uma angustiante irritabilidade me assola, negando a minha paciência de escutante atento e prestativo.
O desapontamento é uma evidência indisfarçável, mas cautelosamente escondida.
Não quero fugir, nem me ausentar. Espero apenas que o mundo se aquiete... e me deixe respirar.
Eu sei que posso arrostar o fardo, desde que as forças não me sejam traídas por aqueles que deveriam estar ali apenas para me lembrarem do caminho.

Derrotado o corpo a alma esbraceja à tona, tentando não se afundar.

Não soçobrar!

domingo, 13 de julho de 2008

Sentido Sem Sentido

Queda livre no vazio.

Por vezes o tempo é uma experiência anacrónica. Sem sentido. Desconcertante.

Por vezes o tempo é uma experiência tola. Indecifrável.

Por vezes o tempo é apenas um estar. Respirar tão somente. Sem consciência...

Por vezes fico para aqui, olhando em redor, sem nada observar, sem nada entender. É então que o tempo começa a fazer sentido, no seu desatino.

Vou e venho. Escovo os dentes. Oiço uma música antiga. E retomo o poema.
Onde fiquei?!... Que importa. O sem-sentido impõe-se à racionalidade do momento.

Ausento-me de mim e o tempo deixa de existir... deixa de contar... deixa de correr.

Mas depois o reencontro mais adiante, mais tarde. Aí ele me recorda a usa inexorabilidade.

O tempo tem poços imensos, em que caimos inadvertidamente. Perante um negro imenso duma tela em branco. Absorto tento não sucumbir ao marasmo, esperando que que a razão me resgate de volta à insanidade ignóbil duma existência errática.
A dança louca duma cavalgada feérica.

Vacilo.

Bamboleio.

Aterro disforme num charco esquecido pelas monções idas.

Oh Senhor! Meu Senhor! Quando virão as próximas naus?
Quando passarão de novo essas cadeias que me levarão para uma nesga de mundo mais além.
Um espreitar de vida.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Três Dias

Evitando escolhos, lutando contra pensamento errático, superando novas decepções, levei três dias para escrever um curto texto que noutras circunstâncias levaria apenas uma hora. Cheguei mesmo a ponderar desistir do tema e avançar para outra proposta. Contudo esperei. Resignei-me a continuar persistindo.
Mas consegui!
Publiquei o texto já madrugada dentro no meu outro blog. E fui dormir.

Neste momento os meus braços tremem, as minhas mãos estremecem frente ao teclado. A cabeça atafulha-se de pensamentos erráticos que se amontoam em novelos desgrenhados. O corpo arde como possuido por uma corrente eléctrica que o percorre revolvendo-me as entranhas. Sinto-me nauseado e desconcentrado. Mas...
Continuo escrevendo, embora esteja constantemente voltando atrás para corrigir erros.

Debaixo da língua dilui-se um comprimido destinado a dissipar os efeitos incómodos de mais um ataque de ansiedade. De tão habituais, tornaram-se quase uma rotina; algo com que me vou habituando a viver.

A doença ajuda-nos a aprender a ser pacientes.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Ainda outro Abismo

Quantas surras? Quantas sovas? Quantas tareias a vida ainda terá guardadas me esperando?
Quando creio que poderei respirar um pouco, retomar fôlego... eis que a vida logo cuida em me presentear com mais um dissabor, com mais um perversamente requintado desaire.

E o Dragão, que se julgava refugiado no seu Ninho, acaba de novo acossado e ferido. Prostrado na ignomínia de nada poder fazer em sua defesa, senão esperar que os Tempos lhe facultem a possibilidade de mostrar de novo o seu valor.
Mas ele é paciente e sábio. A sua hora chegará.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Stagnatus

Parou...
Parou ... de novo, parou...

O Tempo, o ânimo, a vida.
É um diálogo surdo com um pensamento errático e sem motivo.
Um olhar perdido no horizonte das paredes do meu quarto. Acolhedoras. Protectoras. Imóveis... sinistramente imóveis. Acolhedoramente amigáveis.

A música me embala...
O sonho dança no devaneio lúdico do espírito que se refugia na sua liberdade incorpórea, em que se desresponsabiliza das necessidades dum corpo físico.

Tudo aquilo que não deverei fazer é exactamente o que faço, desde que provenha ou contribua para uma inércia letárgica e doentia. Cómodo refugio de inimputabilidade.

Arrasto a noite madrugada adentro, até à exaustão... até aos primeiros raios de Ré. E envolto no ouro revigorante da Sua Divina Luz, estendo-me e durmo.
O dia é um convite ao sono. A fuga possível... desejada. Cínica.

Sono protector... Sono amigo, que afasta de mim tudo e todos. Sono desculpabilizante. Permissor duma ausência ininputável.

Paro... Rendido à traição de abandonar os meus sonhos...

Permaneço uma esguia sombra de mim, esgueirando-se amedrontada pelos cantos escusos e sombrios, dum exílio reivindicado como salvação.

Eu sou um insulto de mim

domingo, 6 de julho de 2008

Espraiamento Deserto

Não me apetece escrever.
Não me apetece falar.
Não me apetece dizer seja o que for.
Disperso. Divago entre mim e eu. Sem rumo ou propósito. A miséria humana de vegetar num corpo vivo.

Não estou sendo melodramático. Apenas gostaria que por vezes o meu pensamento deixasse de pesar que nem chumbo. Sentir um alívio na cabeça. E uma calmaria me diluindo o corpo. Não este frenesim que me corre pelos membros e pulsa no meu ventre e no meu peito, como uma criatura estranha tentando saltar para fora. Tentando rebentar em vida e horror.

O que pretendo da vida?
O que pretendo eu da vida?
Gostaria de saber que rumo é este.
Que bússula guia os meus passos? Qual o propósito desta empresa?
Apenas respirar e comer para me manter vivo?
Tão pouco. Tão sem ambição. Ou talvez tão embutido de enfado, por uma espera que nunca deveria ser tão longa.

Estendo os membros. Estendo os braços. Estico as mãos até ao horizonte e para lá, até ao infinito. E nada toco. Nada encontro. Tudo o que se insinua acaba por não passar de mera ilusão. Miragem informe mas aliciadora. Profecia duma fé sem causa.

Eu quero apenas dormir um sono tranquilo. Um sono longo. Tão longo quanto o Tempo. E tão pacífico como o Vazio.
O Sono do meu Senhor. Meu Amado Senhor Anúbis.

Nada.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Torpe Noite

Iniciada a noite num ataque de ansiedade, em nada me tranquilizou o constactar que a coutada, onde pretendia ir caçar, estivesse fechada. Toda a comitiva teve de se dispersar em jogos de reconhecimento, buscando, nos terrenos disponíveis, algumas presas que compensassem a empresa.

Mas disperso e cansado...
Que irei dizer ainda?
O sono toma de assalto a minha vontade, que se degladia com um ténue desejo de alguma escrita produzir. Mas como? Como concentrar a criatividade quando o corpo me suplica tréguas?

Os batedores e atiradores encontraram belos troféus que perseguem com ânimo e sucesso. Mas eu não consigo mais que me arrastar no meu pavilhão de caça.
A noite fresca e graciosa convida ao deambular sonhador, sem rumo, pelas veredas labrínticas do bosque encantado pelo luar.
Mas a mim apenas o lângor controla.

Terei de abdicar, desta vez. Renunciarei, até ao amanhecer. Amanhã virei avaliar os despojos da caçada.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

O Docemente Negro Fresco Ar da Noite

3.30h.
Levanto o estore da janela aberta e espreitando para fora, inspiro profundamente o ar fresco da noite. Revigorante! Estou no meu reino!

Volto para o meu posto frente ao computador e assumo a posição de comando. A viagem vai começar.

Sou livre de ficar ou partir. Sou livre de escolher a hora de dormir ou despertar. Sou livre de escrever ou ficar apenas ouvindo a música me embalando os sonhos, como banda sonora para as epopeias que minhas muitas personagens vivem nos múltiplos mundos em que me desdobro.

A nossa vida está na nossa vontade. Fazemos com as mãos o que queremos.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

AutoBullying

Títere da minha auto-crueldade.

Arremessado, rasteirado, aviltado, seduzido, insultado, corrompido, torturado... Eu me nego a fuga de mim próprio, na condenação de não me viver eu.

Rastejo, suplico e imploro, sabendo à partida que não há resposta aos meus rogos. Farsa pérfida e abjecta, cuja finalidade é justificar uma existência não vivida.
Esvaziada de ser.
Esvaziada de identidade.

A perversidade obscena de me amesquinhar numa auto-comiseração boçal. Fanfarronice grotesca dum mártir de causa nenhuma.

E porquê?...
Talvez apenas para me lembrar que ainda existo. E que importo.

sábado, 28 de junho de 2008

Morning Glory

A Noite desliza suave... percorrendo a Madrugada.
Serena...
Silenciosa...
Balsâmica... nos seus Negros Véus.

Com a chegada da Aurora, o Dia se anuncia no trinar alegre dos pássaros... matinais.
O gorgolejar duma rola me lembra que é hora de eu ir dormir.
O Sol já espreita no horizonte.

Tempus Fugit

Dia ou Noite... a hesitação.

Onde fica a fronteira entre um e outro? Onde fica a linha divisória entre mim e os outros? Onde começo e acabo?

Nada sei...
Nada entendo...

A fuga é uma ânsia que me alimenta e me permite continuar... continuar...
Continuar esperando? Esperando o quê?

A dispersão do tempo que me confunde, qual Luz ofuscando o crente perante a Divindade. Rebanho tresmalhado pela fúria esfaimada do predador em perseguição.
A fuga para dentro. O enclausuramento. Enroscado dentro da crosta de momentos apáticos, no alheamento da loucura a que chamam REALIDADE.
Quero ser a piton lânguida na sua longa e lenta digestão. Quero ser o prisioneiro esquecido na mais funda masmorra.

E na voz mais doce cantarei o meu lamento... só para mim. Só para mim.

Só para mim.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

A Espera

A espera...
Entorpecente...
Modorra atrofiante e desmotivadora.
O recolhimento apático e traiçoeiramente desresponsabilizante.
As doenças do foro psicológico são as mais perversamente obscenas.

Trouxa jogada num canto, espero o soar das trompas que anunciem ao mundo o meu despertar.
Vão devaneio este de acreditar que alguém lá em cima olha por mim...

O Homem está só!

Conto o gotejar dos momentos... um a um... num ritmo hipnótico e arrebatador rumo a um delírio mudo. Insano. Salobro.
Estendo as mãos diante dos olhos cerrados... e repito não, não, não
Mas desejando ardentemente que SIM!

terça-feira, 24 de junho de 2008

Galope Tenebris

... E num repente o Tempo estoura num galope furioso.
O ar arde à minha volta.
O racicínio é uma cacofonia insana de berros e uivos incoerentes.
As minhas entranhas revolvem-se querendo romper pela pele, esventrando-me em espasmos dementes.
Imóvel, eu aceno e gesticulo pedindo tréguas... pedindo paz... pedindo uma calmaria que me deixe recolocar-me... redireccionar-me... encontrar a ponta do novelo.
Soçobro...

Irei esperar o Silêncio da Noite. O meu refúgio na escuridão dissimuladora.
O meu Ninho de Dragão...

sábado, 21 de junho de 2008

A Respiração da Noite

O Silêncio.
A Quietude.
O respirar brando da noite entrando pela janela aberta. A cidade dorme. Tudo jaz em quietude. Apenas a luz no meu quarto anuncia vida, na madrugada estival.

Me chamam de morcego. Mas pouco me importa. Aqui, no isolamento da noite, eu sei que o telefone não irá tocar. Sei que a campainha da porta não soará. Sei que não chegarão visitas inoportunas, perturbando os meus ritmos, ou os meus rituais. Sei que estou só. Tranquilamente só.

No Silêncio da Noite eu não estou abandonado. Estou apenas só.
E como é doce e suave este deslizar macio do tempo sem caso... Escuto o som dos meus gestos. Observo o simpático arrivar da aurora, que espreita sorrindo pela janela aberta do meu quarto.

É aqui que eu sou eu. Neste Silêncio, nesta quietude, neste vazio, preenchido de Mundos e Personagens que a minha vontade leva e traz; ou traz e leva.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Assobiando na brisa

Disperso... Perdido... Entre aqui e aqui mesmo.
Sem rumo. Apaticamente incapaz de empreender as mínimas tarefas que me responsbilizem por mim próprio, perante este mundo... que rejeito.

É isso! A rejeição! A rejeição de querer ocupar o meu lugar neste mundo, nesta realidade. O desejo insano de poder saltar para outra realidade, para outro mundo. O horror de acordar todos dias no mesmo quarto, na mesma casa, na mesma cidade, no mesmo país, no mesmo planeta! A dor de continuar a ser este eu. Eu! Apenas eu!!!
Apenas e sempre.

A incapacidade de rasgar os véus deste cenário macabro.
Titubeante. Trôpego. Continuadamente indeciso, mesmo depois da decisão tomada.
Depois de ter assentado no fundo, agora me vou atolando no lodo sinistro da incoerência conscientemente irresponsável.
Me declaro inimputável, mas perfeitamente consciente das incorrecções em que ocorro por inacção.

Sei que tenho de consultar os meus dados bancários para ver o estado da minha situação finaceira, mas a espectativa de encontrar os valores negativos que espero encontrar, impede-me de os conferir para poder tomar medidas de os resgatar o mais breve possível.
Eu quero fazê-lo. EU QUERO!!! Mas não o consigo fazer.
Tolhido. Tolhido de vontade.
Não consigo coordenar as tarefas mais importantes e socialmente mais responsáveis.
É um vil jogo de foge e esconde, em que me iludo a mim próprio; escondendo-o dos outros.

Passeio distraidamente pelo convés, assobiando à fresca brisa marítima, como se não soubesse que o navio se está afundando.

Adio. Adio. Adio.
Mas adio o quê?
Adio nada. Apenas me limito a não agir. A alhear-me de mim, como se tal fosse possível.
É fácil os outros se convencerem que falseio os comportamentos. Mas não os condeno por tal. Eu mesmo duvido já da minha falta de convicção.

Serei mesmo eu quem se arrasta por aqui, fingindo viver? Quando nada disto que experimento não passa dum tremendamente fastidioso falso-drama incoerente e anacrónico.

A música toca baixinho. Eu danço sem par. Uma dança antiga, fora de moda, mas sempre actual. Uma música tantas vezes repetida. Usando os mesmos chavões de sempre. Com os mesmos refrões e cadências de todas as outras que ouvimos e esquecemos, de tão repetidas, copiadas.

Todas as noites decido «esta noite me deitar cedo». Mas acabo por ficar esperando madrugada dentro. Esperando... ? Sim, apenas esperando. Coisa nenhuma. Apenas um pretexto para não fazer aquilo que quero. Contrariando-me deliberadamente. Obrigo o meu corpo cansado a permanecer até à exaustão.
Punitivamente? Punitivamente.
Depois durante o dia vacilo entre o que fazer, limitando-me a nomear mentalmente todas as tarefas que esperam a minha atenção. Repetindo a lista ad infinitum. Mas sem esboçar o mínimo gesto de alguma dessas nomeadas tarefas encetar.

sábado, 14 de junho de 2008

A Dansa da Noite Interna

De novo noite.
De novo madrugada.
De novo a vigília noctívaga.
A cedência à indisciplina, ao caos. A fraqueza perante a balbúrdia anacrónica duma mente assolada de tempestades e calmarias, em que as luzes e as trevas se degladiam numa dança suave redemoinhadamente louca.

Estaquei! Incapaz de assumir voluntariamente os meus deveres e responsabilidades. Estaquei!
Tudo me parece estranho, complicado, distante, incompreensivelmente despropositado.
Não me obedeço. Não me respeito. Não me imponho a minha vontade... se ainda me resta alguma.

Quero apenas vegetar. Entre a cama e o computador... vegetar!

Perdi o sentido de rumo. Perdi o propósito de algum objectivo a que pudesse ter aspirado. E se o afirmo ainda... é apenas para enganar os outros. Para deles me proteger, mais dos seus rosários de ladainhas com sabor a mezinhas caseiras da avó já velhinha, falecida à muito numa aldeia esquecida em São Nunca por detrás do morro do fim do mundo.

Crueldade... Conservo uma sanidade cruel para poder assistir torpe ao meu lento, lânguido decair numa indiferença quase néscia.
E depois sorrio, falo com os outros, respondendo-lhes com um cínico entusiasmo, enunciando-lhes acertividade e determinação que a mim nego, por ter desaprendido o jeito de as convocar.

Eu me afirmo na negação de mim!

Perdi o controlo ao assumir o comando e não permito que ninguém ouse usurpá-lo, embora seja esse o meu mais almejado desejo.
Sou o suserano demente que se enclausurou no seu castelo para fugir de prestar vassalagem a si mesmo. E correndo por salões e galerias vazios, apregoa aos ventos o fim do mundo que ele abandonou à voracidade dos seus concorrentes.

Deixem-me adormecer tranquilo, para só acordar na hora da minha morte.


Nota: O Título «A Dansa da Noite Interna» não tem nenhum erro ortográfico, pois o «s» na palavra«Dansa» é deliberado. Invoco aí o meu direito, enquanto poeta, ao neologismo. Estou doente, mas não estou demente.

Abismo

Tudo parou!
Tudo se esvai!
O tempo se alonga em agonia!
A nave bateu no fundo. Afundou ao mais lúgubre abismo. Só, num deserto de trevas e silêncios. Onde nem ecos de sussurros chegam.
O torpor é a melhor fuga. A clausura a melhor terapia. Sem medos, sem aflições, sem anseios.
Não é resignação... é entrega.
Abandonado, agora me abandono ao decair suave e mórbido do esgotamento pela inacção.
Abandonado o vigor, a Esperança é uma anedota sem graça, da qual já ninguém ri.
Enclausurado no meu quarto, meus escritos são meu alimento e respiro a música com que acompanho minha dança imóvel dia após dia.
A Morte escondida em cada recanto, persiste no seu apelo murmurado, qual cântico de sereia. Lenga-lenga tão quotidiana, tão fastidiosa,...
Estóico! O Dragão resiste ao Desafio. Açoitado pela Tempestade furiosa dos Elementos, ele guarda o seu derradeiro fôlego para o Ressurgir.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

DJÁ!

Salve!
Venho aqui para falar de mim, do meu quotidiano e dos meus mundos.
Venho aqui para confessar intimidades, segredos, aspirações ou devaneios.
Venho aqui compartilhar convosco as impressões de uma vivência distímica.
Bem vindos a um mundo indistinto entre a realidade e outra realidade.
Salutas!

Nota: a imagem do cabeçalho deste blog é «Hobsyllwin, The White Guardian» do pintor Ciruelo Cabral; disponíel na internet.