sexta-feira, 17 de agosto de 2012

O MAR PAROU




O mar parou,
Ficou um deserto imenso,
A noite o tingiu de breu, como o abismo que ele esconde.
A nau esquecida espera imóvel
No horizonte infinito, mudo.
O mundo parou, tudo parou.
Os rostos cristalizaram no mais fino alabastro
Transparentes, silenciosos, vazios.
Os vultos da cidade são espectros que se perderam da sua própria história
De vidas esquecidas,
Abandonadas no torpor peçonhento da ignorância. Fétida, imunda.
A cidade é uma imensa caverna donde nada sai
E a vida definhe em exalações pútridas
Criaturas vis sugam a simpatia de olhos apáticos, ausentes.
Eu me quedo sobre as águas.
Negro como pez.
Mas sei...
Virá a Luz, pois ela se esconde em mim.
Virá o Tempo, pois ele me atravessa como uma lança.
O infinito é este imenso vazio
Donde se ergue o sopro gélido, que nos recorda a Vida
A espera
O medo desperto pela dúvida, traiçoeira.
Mas do peito eu arranco meu rubi coruscante
O observo e acaricio. Afinal ele é tudo que resta.
Não o posso deixar nas areias sem idade
Abandonado
Abandonado
Eu... ?




quarta-feira, 11 de julho de 2012

O LONGE




Que ausência é esta?
Que se estende perante mim, como um horizonte inalcançável
Mar de sargaços,
de monstros e medos, vestidos de negro nevoeiro.

Que barca é esta?
Que navega sem quilha, por dunas de fogo e secura
Arrastada por uma esperança cega,
Tocha extinta em pez e pavor.

Quem és tu? Barqueiro sem remo!

Perdido em
Desertos de noites tórridas
E dias gelados.
Procuro-te na praia, entre as conchas cuspidas pelo mar,
Atiradas fora como uma coisa que não presta,
Que já não importa.
A validade já expirou.

O silêncio imenso dum vazio cavado desde o fundo da alma
O abismo de onde lanço o meu grito jamais ouvido
Para sempre mudo

Onde está o chão sob os meus pés?
Tenho braços, não asas!
...

quinta-feira, 14 de junho de 2012

INVISÍVEL



Como vidro
Fino alabastro, do mais fino que se possa encontrar
Em velhos tesouros egípcios, enterrados de séculos.
Estando sem ser visto
Andando sem ser notado
Agindo sem ter vivido.
Olhos não vêm, mãos não tocam
Sigo incógnito por uma vereda deserta e espinhosa
Sombra de mim mesmo
Sombra da minha sombra
Intocável
Inacessível
Inalcançável
Para sempre só!
Porque não escutado.
Silêncio de desfiladeiros que nunca ninguém visitou
Nunca ninguém explorou
Nunca ninguém perscrutou.
Assim me ergui
E assim me irei declinar
Para jazer desconhecido no eterno como fora no mundo
Dos vivos.