terça-feira, 17 de junho de 2008

Assobiando na brisa

Disperso... Perdido... Entre aqui e aqui mesmo.
Sem rumo. Apaticamente incapaz de empreender as mínimas tarefas que me responsbilizem por mim próprio, perante este mundo... que rejeito.

É isso! A rejeição! A rejeição de querer ocupar o meu lugar neste mundo, nesta realidade. O desejo insano de poder saltar para outra realidade, para outro mundo. O horror de acordar todos dias no mesmo quarto, na mesma casa, na mesma cidade, no mesmo país, no mesmo planeta! A dor de continuar a ser este eu. Eu! Apenas eu!!!
Apenas e sempre.

A incapacidade de rasgar os véus deste cenário macabro.
Titubeante. Trôpego. Continuadamente indeciso, mesmo depois da decisão tomada.
Depois de ter assentado no fundo, agora me vou atolando no lodo sinistro da incoerência conscientemente irresponsável.
Me declaro inimputável, mas perfeitamente consciente das incorrecções em que ocorro por inacção.

Sei que tenho de consultar os meus dados bancários para ver o estado da minha situação finaceira, mas a espectativa de encontrar os valores negativos que espero encontrar, impede-me de os conferir para poder tomar medidas de os resgatar o mais breve possível.
Eu quero fazê-lo. EU QUERO!!! Mas não o consigo fazer.
Tolhido. Tolhido de vontade.
Não consigo coordenar as tarefas mais importantes e socialmente mais responsáveis.
É um vil jogo de foge e esconde, em que me iludo a mim próprio; escondendo-o dos outros.

Passeio distraidamente pelo convés, assobiando à fresca brisa marítima, como se não soubesse que o navio se está afundando.

Adio. Adio. Adio.
Mas adio o quê?
Adio nada. Apenas me limito a não agir. A alhear-me de mim, como se tal fosse possível.
É fácil os outros se convencerem que falseio os comportamentos. Mas não os condeno por tal. Eu mesmo duvido já da minha falta de convicção.

Serei mesmo eu quem se arrasta por aqui, fingindo viver? Quando nada disto que experimento não passa dum tremendamente fastidioso falso-drama incoerente e anacrónico.

A música toca baixinho. Eu danço sem par. Uma dança antiga, fora de moda, mas sempre actual. Uma música tantas vezes repetida. Usando os mesmos chavões de sempre. Com os mesmos refrões e cadências de todas as outras que ouvimos e esquecemos, de tão repetidas, copiadas.

Todas as noites decido «esta noite me deitar cedo». Mas acabo por ficar esperando madrugada dentro. Esperando... ? Sim, apenas esperando. Coisa nenhuma. Apenas um pretexto para não fazer aquilo que quero. Contrariando-me deliberadamente. Obrigo o meu corpo cansado a permanecer até à exaustão.
Punitivamente? Punitivamente.
Depois durante o dia vacilo entre o que fazer, limitando-me a nomear mentalmente todas as tarefas que esperam a minha atenção. Repetindo a lista ad infinitum. Mas sem esboçar o mínimo gesto de alguma dessas nomeadas tarefas encetar.

2 comentários:

Luís Freitas disse...

Como, numa situação semelhante, me disseste a mim, digo-te agora: Simplesmente faz! Se começares por alguma coisa as outras seguem-se. Acredita. Abre os braços e lança-te em frente. De inicio será de forma hesitante mas, depois, um novo começo se esboça e a alegria volta. Um abraço.

ManDrag disse...

Salve! Luis
Obrigado por me devolveres as minhas palavras. É para isso que temos Amigos; para nos recordarem de nós próprios.
Sabes que eu tenho Coração de Dragão e Alma de Guerreiro. Quando chegar o momento eu arrancarei; e o combate será meu. Mas agora,... é tempo de o Dragão fazer Ninho.
Com o degelo do Inverno o Sol voltará e, aí então, eu estenderei as asas e me lançarei.
Até Sempre!